Em meio à enxurrada de propaganda do governo sobre os planos de expansão do transporte sobre trilhos na Região Metropolitana vale lembrar um episódio que aconteceu faz bem pouco tempo. A estação Três Poderes, presente em todos os planos do Metrô até então, foi excluída da nova linha Amarela.
Apresento aqui alguns recortes dos fatos e notícias da época. O último texto foi a resposta obtida da ouvidoria do Metrô sobre a questão. Importante destacar dos fatos todos é a forma como ocorre alguns processos do planejamento de transportes na Região Metropolitana, em que uma associação de bairro possui influência para ditar os rumos da rede de transporte sobre trilhos.
Av. dos Três Poderes x Av. Francisco Morato
29/10/2005 – 11h52
ALCKMIN “APAGA” METRÔ REJEITADO POR VIZINHO
ALENCAR IZIDORO
da Folha de S.Paulo
Em meio à pressão de alguns moradores de classe média alta, a administração Gerlado Alckmin (PSDB) desistiu de construir uma estação do Metrô prevista há praticamente dez anos no projeto da linha 4-amarela (Luz-Vila Sônia).
O Estado afirma que a queixa da população foi somente uma das razões
que pesaram para a decisão –mas não a determinante.
Diferentemente da maioria dos paulistanos, que reivindicam mais
transporte coletivo perto de casa, parte da vizinhança de bairros
residenciais como Instituto Previdência, Jardim Christie e Guedala,
na zona oeste de São Paulo, avaliava que a estação Três Poderes,
integrada a um terminal de ônibus, poderia causar alguns transtornos
e descaracterizar a região –com a presença intensa de camelôs e
tráfego de coletivos.
Inserida nos mapas da rede divulgados ao longo dos últimos anos e
prevista originalmente para receber 50 mil passageiros por dia, ela
foi excluída da segunda fase da linha 4 ao mesmo tempo em que houve a
decisão de antecipar a obra da estação Vila Sônia.
A alteração de planos foi formalizada há um mês, sem alarde. Na
avaliação da gestão tucana, a nova estação, programada para ser
entregue até 2012, terá melhor função social –já que concentrará um
grande terminal de ônibus e se tornará a mais movimentada da linha 4,
com 150 mil usuários. Pelos projetos originais, ela só sairia do
papel numa terceira fase.
Por outro lado, a exclusão da estação Três Poderes, na esquina da av.
Prof. Francisco Morato com a Três Poderes, vai abrir um “buraco” de
2,4 km entre as paradas Butantã e Morumbi, a maior distância entre
estações da linha 4.
Os técnicos do Metrô geralmente planejam uma distância de 1 km entre
cada parada dos trens.
A linha 4 será integrada às linhas 1-azul (Norte/ Sul), na Luz, 3-
vermelha (Leste/ Oeste), na República, e 2-verde, na Paulista, além
da linha C da CPTM.
A primeira fase das obras deve ser concluída no final de 2008, época
programada para entrarem em funcionamento as estações Luz, República,
Paulista, Faria Lima, Pinheiros e Butantã. Com 12,8 km, elas devem
receber mais de 700 mil passageiros por dia.
A linha terá sua operação concedida à iniciativa privada e, na
segunda fase, está prevista a entrega das estações Higienópolis,
Oscar Freire, Fradique Coutinho, além de Morumbi e Vila Sônia –antes
seria a Três Poderes.
No local desta última, atualmente há tapumes do Metrô, mas para a
instalação de um túnel de ventilação da linha sobre trilhos.
Ismael Molina, gerente de Planejamento de Transporte Metropolitano do
Metrô, atribui as mudanças no sistema de ônibus da prefeitura como um
dos fatores para a exclusão da Três Poderes.
Com a proposta de fazer um terminal de coletivos na Vila Sônia,
estudos avaliaram que uma estação ali beneficiaria mais gente.
O custo inicial também será maior, porém a administração tucana diz
não ter ainda detalhes.
Sobre as reclamações de alguns moradores contra a estação Três
Poderes acompanhada de um terminal que levaria até 80 ônibus por hora
ao local, Molina afirma não ter sido algo inédito –houve reação
semelhante com a estação Jardim São Paulo, da linha 1.
“Não vou dizer que não pesou, mas não foi decisivo. A gente pesa,
ouve a população, mas tem uma responsabilidade técnica a ser
preservada. Não iria inviabilizar uma estação só por conta disso.
Todos os fatores somaram.”
O Metrô, enquanto isso, já começa a receber reclamações de outros
moradores insatisfeitos com a exclusão da Três Poderes.
Segundo Molina, a distância de quem mora lá até a estação Butantã ou
Morumbi será de até 1,2 km –e quem morar a mais de 600 metros, em
vez de ir a pé, deverá optar por integração com ônibus.
“Com estações mais próximas, há um atendimento muito melhor. Mas tem
um custo operacional [para manter]”, diz Molina.
Segundo ele, a retirada dos ônibus integrados à Três Poderes –algo
que já agradaria a vizinhança insatisfeita– tornaria a estação do
Metrô muita vazia, com menos de 6.000 passageiros a por dia. A
estação Sumaré, do ramal Paulista, recebe quase 8.000.
O gerente do Metrô afirma que a obra da linha 4 está sendo feita de
forma que, no futuro, se algum governo quiser construir a Três
Poderes, será possível. “Ela não ficará inviabilizada”, acrescenta.
Obras da Linha 4 do Metrô de SP causam polêmica entre moradores
As obras não começaram, mas a Linha 4 do metrô já causa polêmica. Moradores do Jardim Christie, Butantã e Jardim Guedala, regiões residenciais das zonas sul e oeste, não querem ter metrô perto de suas casas de alto padrão, geralmente com garagem para mais de um par de carros. O medo não é exatamente do metrô, mas daquilo que ele pode trazer: comércio e desenvolvimento imobiliário.
“Nos planos do metrô, a Estação Três Poderes está localizada em uma área estritamente residencial de classe A e, portanto, não atenderia a população local, pois os moradores certamente continuariam utilizando o carro”, acredita a arquiteta Nancy Miyahara, da Associação dos Moradores do Jardim Christie. “Além disso, está prevista a construção de um terminal de ônibus junto à estação, o que atrairia um tipo de comércio que mudará totalmente o perfil da região.”
A proposta da associação, já encaminhada à Subprefeitura do Butantã e ao Metrô, é que a estação seja deslocada para uma área já comercial. “A Estação Butantã, por exemplo, está bem localizada. Ali já existe comércio.” Segundo a urbanista Regina Monteiro, do Movimento Defenda São Paulo, quase 80% da extensão da Linha 4 entre o Butantã e a Vila Sônia cortará áreas de caráter residencial (Z-1).
“Nos bairros já consolidados, arborizados, organizados em torno de uma zona residencial, é incoerente levar um tipo de desenvolvimento que vai descaracterizá-los”, acredita. “Mesmo nas zonas comerciais não seria aconselhável suprir a carência por transporte e, ao mesmo tempo, levar adensamento.” Regina menciona o Plano Diretor, aprovado em outubro, que define em seu artigo 122 como Áreas de Intervenção Urbana as faixas de até 300 metros de cada lado das linhas do sistema de transporte público de massa e o raio de até 600 metros das estações de metrô.
http://www.estadao.com.br/arquivo/cidades/2003/not20030419p6721.htm
Movimento contra Metrô teve 520 adesões
PANORÂMICA / TRANSPORTE
DA REPORTAGEM LOCAL
terça-feira, 1 de novembro de 2005
Folha de S. Paulo
O movimento contra a construção da estação Três Poderes na linha 4-amarela (Luz-Vila Sônia) do Metrô teve a assinatura de 520 moradores da zona oeste, segundo a Assec (Associação de Segurança e Cidadania), umas das entidades líderes da mobilização. A pressão foi um dos fatores que levaram o governo Geraldo Alckmin (PSDB) a excluir a estação do plano das obras na imediação de bairros como Instituto Previdência, Jardim Christie e Jardim Guedala. Márcia Vairoletti, presidente da Assec, disse ontem que a rejeição à estação não era só de “alguns” moradores, mas de um grupo que ela considera ser a maioria. “Foi resultado de muito tempo de discussão, desde 2001.” Alguns moradores e os próprios representantes da Associação Comercial contestam essa informação. Vairoletti refuta a acusação de que a posição seja elitista.
Senhor André:
Encaminhamos sua manifestação para a área responsável pelo assunto abordado em seu relato e fomos informados que a definição do traçado de uma linha de Metrô, bem como a localização de suas estações refletem uma série de pesquisas e estudos.
São avaliadas diversas alternativas possíveis, sob aspectos que buscam a otimização da demanda, dos custos de construção, das desapropriações, do impacto ambiental e a compatibilização com outros modos de transporte pois os investimentos para construção do Metrô tem que ser priorizados pelo Governo do Estado com outros investimentos tão necessários quanto o Metrô, como educação, saneamento, segurança, etc. Isto faz com que os projetos sejam dimensionados para o melhor atendimento possível de seus objetivos dentro do orçamento disponível.
Nos estudos iniciais para a implantação da Linha 4 Amarela a sua diretriz de traçado foi embasada em várias premissas, sendo uma delas o atendimento à demanda integrada onde se analisou a abrangência e o potencial da demanda que poderia ser atraída por ela, à partir da integração com outros modos de transportes.
No seu projeto funcional, considerando a configuração operacional do transporte coletivo no início da década de 90, a Estação Três Poderes havia sido concebida para operar com um terminal de ônibus que integraria as linhas originárias do corredor Raposo Tavares, proveniente de Cotia/Vargem Grande Paulista e Educandário/Bonfiglioli, dando assim apoio ao terminal da Estação Morumbi, estação de ponta da Linha 4, na Fase 2 de implantação.
Para atender os usuários dessas linhas de ônibus integradas estava prevista a implantação de um terminal na confluência da Av. dos Três Poderes com a Av. Prof. Francisco Morato. O terminal junto à estação deveria abrigar um total de 10 linhas com cerca de 80 ônibus/hora.
A implantação da Linha 4 Amarela foi inicialmente estabelecida para se dar em 3 fases operacionais, sendo:
Fase 1: implantação de 5 estações (Luz, República, Paulista, Pinheiros e Butantã);
Fase 2: implantação de mais 7 estações (Morumbi, Três Poderes, Higienópolis, Oscar Freire, Fradique Coutinho e Faria Lima);
Fase 3: implantação da estação Vila Sônia da extensão até Taboão da Serra e 3 estações, sem prazo definido.
Os estudos para a sua concessão, realizados em conjunto com o BIRD, co-financiador desta obra, apontaram a importância de se agregar, de imediato, a esta linha a demanda integrada proveniente do sistema de ônibus que atende o setor sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo. Para tanto, a antecipação da implantação da estação/terminal Vila Sônia, da Fase 3 para a Fase 2, permitiria equacionar, em melhores condições, o atendimento à demanda integrada que utiliza o serviço de ônibus do corredor Francisco Morato, por onde convergem as linhas de Taboão da Serra, Embu e Itapecerica da Serra, proporcionando, ainda, a completa compatibilização com a proposta de reordenação do transporte regional programada pela SPTrans e EMTU.
O Estudo da Reorganização do Transporte Coletivo ao longo da Linha 4 Amarela, no trecho entre Butantã e Vila Sônia, revisto a partir dessa nova configuração do transporte da região, prevê a implantação de 3 (três) terminais de ônibus de integração: Vila Sônia, Morumbi e Butantã.
Portanto, a antecipação da implantação da estação/terminal Vila Sônia transferiu para a Estação Morumbi a função anteriormente prevista para Três Poderes, deixando desta forma, de existir a sua condição de ponto de apoio de integração para a estação de ponta de linha. A eliminação de um terminal de ônibus no local foi uma das principais reivindicações apresentadas em reuniões organizadas com a comunidade.
Lembramos que a Estação Três Poderes, foi prevista numa Z1, zona de uso exclusivamente residencial de baixa densidade, reclassificada atualmente pela Prefeitura do Município de São Paulo no Plano Diretor Regional Estratégico, Lei 13.885 de 25/08/2004 em ZER-17 (Zona Estritamente Residencial), por esta característica de ocupação urbana.
Com a exclusão do terminal a demanda lindeira estimada não mostrou-se suficiente para justificar, no momento, o investimento necessário para a sua implantação, investimento este que poderia ser melhor aproveitado para a antecipação da implantação da Estação Vila Sônia.
Por estas razões, foi definido o cancelamento da Estação Três Poderes, sem contudo inviabilizar sua implantação no futuro. Esta possibilidade estará assegurada pelas adequadas condições tanto viárias como do projeto e construção da via metroviária no local, onde, por ora, será construída uma saída de emergência e uma de ventilação.
Permanecemos à disposição para outras informações.
VERA MELO
Ouvidora
Atend.2791/08
WAA WAA
Cordialmente,
Ouvidoria Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô. (11) 3371-7274